terça-feira, 8 de julho de 2014

A Entrada Perfeita (ou as Nuances de um Jogo de Baseball)

Albert Pujols fazendo o que ele sabe de melhor
Quantas corridas se pode anotar em uma só entrada?

Era um jogo contra os Astros. Em Anaheim. Com o time ganhando 8 consecutivas em casa. Com um record de 49-36. Não era pra ter sido nada de especial, mas a situação pediu. Esta é a 7ª entrada do jogo de sábado, 05/07/2014.

O texto é só sobre uma única entrada, mas precisamos de um pequeno background.

Hector Santiago no montinho, por causa da rotação titular de 6 homens que foi instaurada no time após o DoubleHeader em Chicago. Vinha até bem, com 0 Corridas cedidas nas suas 8.1 entradas mais recentes no Angel Stadium.

Mas nenhuma boa sequência pode servir de padrão para o velho Hector, que tinha 0-7 na temporada, com um ERA de mais de 5. E ele provou isso.

Pra honrar sua fama, permitiu uma RBI Double para Jason Castro, Catcher, pra deixar o jogo empatado em 1.

Mas ainda não era o suficiente.

Com um homem na 2ª e 1 out, acertou George Springer com a bola e cedeu uma simples para Matt Dominguez, que deixou as bases lotadas. Tudo isso pra dar de presente um arremesso elevado, na zona de strike, numa contagem 3-1, para o Rebatedor Designado Chris Carter, que não perdoou e pôs a bola para o outro lado do muro do Campo Central, para um Grand-Slam.

Mas não é dessa entrada que estamos falando. Não faria um Post completo sobre uma passagem em que o time levou 5 corridas e sofreu a virada. Não somos esse tipo de fã, que acha defeito em tudo, e acha que o time dele é o pior do mundo.

Somos o tipo de fã que sempre acredita, não importa a situação.

Quem acompanha o time desde o ano passado, pelo menos, já está pulando de alegria com a primeira vaga de Wild Card que o time ostenta antes do All-Star Break. Está feliz com a sequência saudável de Trout-Pujols-Hamilton no Line-Up. Reconhece as maravilhosas temporadas de Erick Aybar, Garrett Richards, Matt Shoemaker, além do possível retorno à boa forma de Jered Weaver e David Freese.

Não somos?

Pois então. Vamos falar do que viemos falar. Mas antes, só um último adendo, prometo. Na parte de baixo da 4ª entrada, Howie Kendrick, desonrando o título de #AntiClutch, impulsionou Erick Aybar, que tinha rebatido um Base Hit e roubado a segunda, para o Home Plate, deixando um placar desfavorável de 5-2, mas com uma diferença menor.

Então vamos. Topo da 7ª entrada. Ataque dos Astros no Batter's BoxMichael Roth no montinho.

Quem?

É. Não é muito conhecido. Roth, reliever canhoto, estava no time no ano passado, mas como não mostrou nada em suas poucas aparições, foi às minors respirar um pouco. Voltou esse ano como um prospecto a ser observado, procurando por uma vaga de bullpen. Estava no AA Arkansas Travelers e subiu na descida de Cory Rasmus para o Triple-A Salt Lake Bees, pois ele tinha arremessado 2.1 entradas na vitória histórica de 7-6 dos Angels na noite anterior em que Mike Trout rebateu um WalkOff Home Run na 9ª entrada de um jogo empatado.

Mas estamos desviando do tópico de novo. Só queria falar que Michael Roth arremessou 2 entradas perfeitas, permitindo que o time ficasse no jogo e preparando o terreno para a parte de baixo da entrada. Também serve como registro, para quando ele for um dos relievers que forem para a PostSeason.

Roth termina a Top 7th com um FlyOut em Matt Dominguez e entrega a bola para Anthony Bass, primeiro reliever da noite para os Astros. Mas ainda bem que a sorte não passou pela bolinha, porque senão teríamos uma rápida entrada 1-2-3 para a parte baixa do Line-Up dos Angels.

Invés disso, o time queria mais. Não é legal perder em casa pro time que segura a lanterna na sua liga. Tudo bem que não é uma rivalidade muito forte, iniciada apenas ano passado, com a mudança de Houston da NL Central pra AL West, mas é um parceiro de divisão, e ganhar destes sempre é bom.

Enfim, demos início ao Recap da parte baixa da 7ª entrada, que é o tema do texto.

C. J. Cron ao bastão. A nova jóia do time. Reconhecido recentemente, vêm fazendo uma ótima primeira temporada das Majors, sendo uma grande peça utilizada para poupar Albert Pujols na 1ª base e reduzir suas lesões, jogando o veterano pra DH.

Cron rebate uma simples para a direita numa contagem completa. Pequenos raios de esperança começam a brilhar no coração de cada fã.

Mas pequenos mesmo. Cron é deplorável correndo bases e todos nós sabemos disso. Peso? Inabilidade? Inexperiência? Talvez.

Tais raios ficam ainda menores quando Hank Conger, o Catcher Reserva Switch-Hitter, é eliminado por Strikeout

1 out, e as esperanças ficam mais tristes. Uma Double-Play altamente provável se aproxima, com Cron em base e o 3ª Base defensive-only John McDonald. JhonnyMac é o Rei dos PopOuts em situações decisivas, e não duvido que Cron fosse tentar correr pra segunda num Infield Fly.

Mas então a esperança renasce.

Não é JhonnyMac, o Primeiro Ministro, que se aproxima da Plate. É David Freese.

"Tá, e daí? O 'MVP da World Series de 2011' tá um lixo no bastão esse ano", você me diz.

Ok, concordo. Mas lembra do papo lá de cima, sobre sempre acreditar? Ano passado, revezávamos Luís Jimenez, Tommy Field, Alberto Callaspo e Chris Nelson no hot corner, então ter Freese por lá é uma evolução imensa.

David vai ao bastão como Pinch-Hitter, procurando calar a boca de fãs descrentes como você. 

Olha um arremesso para strike e cai na contagem. Não pode cometer o mesmo erro de novo pra não ficar em situação crítica. Também não pode rebater para contato, porque senão a temível queimada dupla se configuraria facilmente, já que ele também é bem lento.

A única solução é rebater para força.

Ok, então.

HomeRun de 2 corridas pro center field, seu 4º no ano. C. J. Cron se esbafore ao correr as bases em velocidade mediana pra anotar a 3ª corrida do time, e Freese trota na areia recebendo todo o carinho dos presentes no Angel Stadium.

Os Angels voltam ao jogo, com um placar de 5-4 e todo o momentum a seu favor. E Kole Calhoun queria continuar a boa onda que passava por Anaheim. Single pra a direita, em outra contagem completa.

É agora. Mike Trout ao bastão, só 1 out, pitcher cansado, um bom corredor em base, apoio dos torcedores nas arquibancadas. Momento Clutch, daqueles em que o Center Fielder #27 sabe bem o que fazer.

Contagem 3-1. Junto com a 2-0, é a melhor pra fazer estrago.

FlyOut.

O anticlímax se instaura. "Que é isso, truta? Deixou o time na mão numa situação dessas? Pô, cara! Não se faz!", pensa você, ainda não satisfeito, e não desistindo da opinião de que somos o pior time de todo o baseball.

Mas não podemos pensar assim. Trout é mito? É. É decisivo? É. Mas ele não vai acertar todas as bolas em todos os at-bats, temos que entender isso.

Passada a lição de moral, temos Albert Pujols ao bastão.

Pujols é outro alvo de críticas pesadas por parte dos fãs esse ano, que já pedem a retirada do slugger da posição #3 do alinhamento, julgando que ele não é tão decisivo como antigamente, em sua longa carreira pelos Cardinals.

E eu entendo eles. Albert tem um contrato de 10 anos e 250 milhões de dólares arcados pelos Angels, e seu 0-13 com bases lotadas e .190 com RISP não justificam toda essa bolada.

Mas lembra do papo lá de cima, sobre sempre acreditar?

Então. É bem nessas situações em que temos que dar a chance derradeira pra alguém se redimir e entrar pra história. E o velho Albert esperava essa chance há tempos.

Mas talvez a espera o tenha deixado ansioso, pois ele foi pro swing já no primeiro arremesso.

E não há pecado nenhum nisso. Bola rápida de 95 mph, NO MEIO DA ZONA. Pujols não podia desperdiçar um arremesso tão "perfeito" desses.

Ok, então.

Home Run de 2 corridas para o campo centro-esquerdo, seu 19º na temporada, lá nas pedras do Outfield Extravaganza (é, aquilo tem um nome).

É a redenção que Prince Albert queria. Atravessa as quatro bases sendo ovacionado de pé pelos fervorosos admiradores no Big A. E fez por merecer. O Homer de número 511 na carreira, o empatando com Mel Ott em 23º na lista de todos os tempos, dava a virada tão almejada para os Angels, num jogo que já parecia perdido.

"Ok. Agora a entrada acaba, né? Já tivemos 2 momentos épicos que valeram a recordação. Só fala que Josh Hamilton foi eliminado por Strikeout - o que vem sendo bem frequente - e pronto."

Calma.

Também pensei assim enquanto via o jogo.

Mas agora era só festa.

Troca de arremessador pelo lado de Houston, já que Bass leva o Blown Save, e entra Tony Sipp. Experiente. De confiança. Canhoto, pra enfrentar Hamilton, também habilidoso com a esquerdinha.

Mas Josh está contradizendo as estatísticas de handedness esse ano, rebatendo .380 contra LHP's. Mas isso não importa, por que ele, na verdade, conseguiu um Walk. Em contagem cheia, é verdade, mas ganhou a 1ª base do mesmo jeito.

Erick Aybar ao bastão. O melhor ShortStop do ano pela AL até agora, digno de uma vaga de All-Star, apesar de não ter sido chamado, principalmente pelas homenagens da liga à Derek Jeter. Ok, legal, é o último ano dele, mas tem que valorizar quem tem talento.

Mas Aybar ainda tinha esperanças de estar em Minnesota, e rebateu uma dupla para o centro, que impulsionou Hamilton da 1ª pra Home, colocando 7-5 no Scoreboard. Realmente uma temporada de estrela, ainda mais se os Angels forem longe.

Walk Intencional em Howie Kendrick, o próximo da lista. Mais pra dar tempo do próximo reliever aquecer do que por estratégia.

Com corredores na 1ª e na 2ª, ainda com 2 outs, entra Josh Zeid, o 3º reserva DA ENTRADA, pelos Astros.

Como a zoeira não tem limites, é C. J. Cron caminha até a área dos rebatedores. 10º atacante dos Angels na entrada. O cara que começou toda essa insanidade, com aquela rebatida despretensiosa. Só que agora, o time dele já anotou mais 5 corridas, e ele não tem responsabilidade nenhuma. Bem aquela situação que ele adora.

Home Run de 3 corridas para o Left-Center Field, 9º do ano, lá onde seu parceiro de 1ª base e espelho de carreira meteu um uns minutos atrás.

De repente, o jogo quase perdido está 10-5 pros nossos Halos.

E não parou por aí! O texto tá enorme, mas a entrada foi ainda maior.

Hank Conger ao bastão. Ainda com 2 outs. Trabalha a contagem de arremessos e chega a um Walk. É. Walk pro rebatedor nº 8 do Line-Up, faltando uma eliminação para acabar a entrada.

David Freese à plate. Já tinha tido seu momento de consagração, já tinha caído nas graças do povo do sul da Califórnia. Não precisava fazer mais nada.

E nem fez. Só esperou os arremessos virem na sua direção e, noutra contagem cheia, ganhou mais um Walk para os Angels, 2º seguido e 4º da entrada. E ainda deu lugar à Grant Green, que correu bases por ele.

Freese fez o clássico papel de "deixa que eu decido", ficando por uma entrada (com 2 AT BATS!), 1-1, 2 RBIs e Walk. Fantástico.

Kole Calhoun ao bastão. Cansado, e com o jogo quase garantido, ele decide dar um fim à brincadeira. Mas o pitcher oposto não queria. Joga três bolas fora da StrikeZone, pra daí jogar sério. Volta pra contagem cheia e continua atacando a zona, até conseguir um Strikeout.

Ufa, acabou...


PERAÌ......


O QUÊ?

Em nome da zoeira infinita e sem limites, Kole Calhoun chega na 1ª base a salvo depois de um Wild Pitch, que foge do Catcher e permite que o ruivo ocupe a base.

Bases lotadas, Mike Trout ao bastão.

Ok. O quão épica a entrada seria se Trout rebatesse um Grand Slam? Os fãs iriam ao delírio. Dupla, que anotaria 3? Simples que valeria 2? Walk com bases lotadas? Qualquer coisa! Ele é o melhor jogador do Baseball, com certeza vai armar mais uma jogada histórica, pra remarcar ainda mais sua breve e brilhante carreira.

Mas Mike Trout, o mito, foi eliminado por Strikeout, e a entrada acaba. Parece até a história do Casey At The Bat, poema do começo do século XX.

Se na primeira eliminação ele não teve culpa, nessa segunda ele tem uma certa responsabilidade, mas não por incompetência. É um pouco mais profundo que isso. Mas é assunto pra outro Post.

E é aqui que acaba a 7ª entrada do jogo entre Angels e Astros. 8 corridas, 6 Hits, 4 Walks, 74 arremessos pelos lançadores dos Astros. Eventualmente, Howie Kendrick impulsionaria Albert Pujols na 8ª entrada para dar números finais à partida. 

Clássica BoxScore que fecha os textos










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