quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

A História dos Angels, Parte 8: A Reconstrução (1987-1992)

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Qual o grande problema quando se está cuidando das finanças de um time de baseball? Os contratos. Porque, por melhores que sejam, por quantos anos durarem, eles acabam. E, nessa hora, ou você abre os bolsos para seus certificados veteranos e permanecer competitivo por mais um ano, ou deixa eles irem, em prol de cimentar o futuro do time com jogadores jovens. A segunda opção não é tão ruim, mas leva tempo. Os fãs não gostam, mas têm que esperar...


Da turminha aí de cima, Bob Boone voltou pro time em maio de 87, Rick Burleson e Doug Corbett foram aposentar em Baltimore, Doug DeCinces renovou mas foi dispensado em setembro, Terry Forster aposentou e Reggie Jackson voltou pra Oakland pra encerrar a carreira. Também Bobby Grich se retirou do esporte, Ron Romanick e um prospecto foram pra Nova York por um Catcher reserva em Butch Wynegar, Stan Cliburn foi trocado por um 3B do Double-A de Atlanta, Jerry Narron e Rob Wilfong foram liberados e jogaram mais um ano cada e, no final do ano, John Candelaria foi mandado pros Mets por dois Pitchers que somaram incríveis 0.1 entradas na MLB durante a CARREIRA.


O time pareceu destruído? Sim, porque ele foi mesmo. Pensando nos anos seguintes, os Angels diminuíram o número de titulares com 30+ anos de 6 em 86 pra 3 em 87, ainda mantendo algumas peças de renome pra orientar os novos jogadores que iam surgindo pelo Farm e por trocas.


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Brian Downing renovou por mais 4 anos e se firmou como a cara da franquia, liderando a liga com 106 Walks e o time com OBP de .400. Gary Pettis, Devon White (agora titular no RF) e o novato 2B Mark McLemore somaram para 81 bases roubadas e foram pegos apenas 22 vezes no processo. Downing, Wally Joyner e o novo LF, Jack Howell, proveram a potência para o time e combinaram para 86 Homers e 375 Hits.



Se não fosse pelo departamento dos arremessadores, o time brigaria pelo título novamente. Mike Witt foi o "melhor Starter do time" e teve um ERA de 4.01. A idade começou a morder John Candelaria (33) e, principalmente, Don Sutton (42), e Kirk McCaskill teve outro ano ruim. O Bullpen foi um pouco melhor, liderado pela dupla de Closers DeWayne Bruice e Greg Minton, que somaram 27 Saves e tiveram os dois melhores ERAs do time. Doonie Moore foi marcado pela torcida por um fatídico fato do qual já temos conhecimento e era vaiado todas as vezes que entrava. Teve múltiplas lesões em 87 e foi limitado a 14 jogos (jogando muitos desses machucado), mesmo assim conseguindo um ERA de 2.70.


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California manteve-se na briga pela AL West até o final de agosto, quando somava 66-66 e estava 3 jogos atrás dos líderes Twins, e isso os motivou a buscar reforços de meia-temporada para o boost final. Trocaram 2 Minor Leguers para os Pirates por Johnny Ray (que rebateu .346 no mês e meio que jogou) e assinaram com o veterano Bill Buckner (.306 em dois meses), um dos carrascos de Boston que afundaram os Angels em 86. Mas setembro era um mês ingrato para os Halos da década de 80. Mesmo com as adições jogando bem, o time cravou a pior marca do oeste com 9-21 no último mês da temporada e empataram na LANTERNA da divisão com Texas, embora apenas 10 jogos atrás dos campeões de Minnesota, fechando a temporada com 75-87.

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Bill Buckner
Acaba a temporada e vêm mais uma Offseason movimentada para os Halos. Seguindo a saída de DeCinces no final de setembro, Don Sutton voltou pra casa e foi fazer sua última temporada nos Dodgers (aos 43 anos!), Ruppert Jones e Gary Lucas aposentaram as luvas e Gary Pettis foi trocado para os Tigers pelo Starter mediano Dan Petry.


O time conseguiu a renovação com Mike Witt, Donnie Moore e Greg Minton e assinou com Chilli Davis pro Outfield. Com poucas caras novas, o time continuou apostando na base e na economia pra tentar vencer.



Mas dessa vez não deu certo. Somando 19-35 em 4 de junho, e em últimos na AL West, os Angels viram que aquela temporada não ia dar em nada. Apesar de um bom julho e um agosto regular, um 2-18 em setembro (sempre ele) não ajuda ninguém. O time ainda conseguiu, magicamente, um 4º lugar na divisão com outro 75-87, e ninguém foi capaz de parar os 104-game-winners Athletics, que ficaram com o caneco com 13 jogos de vantagem.



Mas ok, estávamos esperando isso. Com a segunda menor média de idade da AL West (tecnicamente empatados com Kansas City) o time não fez um vexame vergonhoso e até teve brilhos individuais. Bob Boone ganhou a 3ª Luva de Ouro consecutiva (e ainda rebateu .295, um recorde na carreira), Johnny Ray liderou o time com .306 de média ao bastão e gloriosas 42 Duplas, Brian Downing (assumindo o posto definitivo de DH) e Wally Joyner continuaram consistentes e Chilli Davis teve uma boa temporada de estreia, com 21 Homers e 29 2B's. 7 dos 9 titulares (e um reserva!) tiveram OPS+ acima de 110).



Mais uma vez os arremessadores titulares patinaram e foram decisivos para o resultado final da temporada. Chuck Finley foi adicionado à rotação e ficou 0.02 ponto de ERA atrás de Mike Witt, que "liderou" o clube com 4.15. O grupo de Pitchers dos Halos não tinha um veterano de renome, e fez a segunda pior marca em corridas cedidas por jogo (4.76, à frente apenas dos "54-107" Orioles). O Bullpen teve seus grandes nomes no estreante Bryan Harvey (2.13 ERA, 17 Saves) e Greg Minton (2.85 ERA, 7 Saves), que se salvaram num elenco pobre em relievers.


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Como qualquer time em reconstrução, os Angels apostaram no Draft de 88. Na 1ª rodada e 8ª escolha geral, selecionaram Jim Abbott (de quem falaremos mais pra frente), na 6ª pegaram Gary Disarcina (sim, nosso 3B Coach, que passou a carreira inteira em Anaheim) e, na 8ª, Jim Edmonds foi o escolhido, para mitar no Outfield Halo na década de 90.


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Scouting Report de Jim Edmonds antes do Draft de 1988.


Noutras transações no meio da temporada, a franquia assinou com Mike Butcher , comprou de volta Mike Brown, que jogou aqui em 83/84, e liberou Donnie Moore e Bill Buckner.

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Arnold Schwarzenegger e Brian Downing na capa de um Scoreboard de 1988
Saindo de dois anos bem mornos, sem jogadores de grande impacto e nenhuma expectativa alta no time, a franquia surpreendeu em 1989, conservando-se na corrida pelo pennant da AL West até as duas últimas semanas. Mas estamos nos 80's, então os Angels conseguiram, de alguma forma, somar 2-8 nos últimos 10 confrontos e ficar na 3º posição da divisão, 8 jogos atrás dos campeões Oakland.

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Gene Autry visita os jogadores no Dugout
A rotação finalmente se acertou e viu anos ótimos de McCaskill, Finley e Bert Blyleven, peça que veio de Minnesota na Offseason, que postaram ERAs abaixo de 3 e ajudaram o time a ter a segunda melhor defesa da AL no ano (perdendo só pra de Oakland). O Bullpen continuou muito bom e o maior ERA foi o do Closer Bryan Harvey, com 3.44.


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A temporada de 89 ficou marcada por ser a estreia em tempo integral de Jim Abbott, o peculiar Pitcher que tinha apenas uma mão. Sim. SÓ UMA MÃO.


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Além do interessante fato biológico acima, Abbott ainda é o único Halo que pulou direto do Draft pras Majors (pra você ver como estava a situação da rotação no final da década!). Terminou a temporada com 3.92 de ERA e a 5ª colocação no Rookie Of The Year Award.


Do outro lado da bola, o ataque caiu e teve números pobres, se comparado aos dos anos recentes. O líder em AVG foi Johnny Ray com .289 e Chilli Davis puxou o carro dos Home Runs com apenas 22. Wally Joyner e Brian Downing não foram os mesmos, mas mesmo assim foram rebatedores acima da média, com OPS+ acima de 100. O grupo consistiu o 3º pior ataque da AL, com apenas 4.18 corridas por jogo de média.

Chilli Davis
Chilli Davis
Piorando um pouco mais a situação, uma triste notícia correu a MLB em junho de 89. O reliever Donnie Moore (lembra dele? Claro que lembra. Todo fã Halo lembra.) cometeu suicídio, em sua casa em Anaheim Hills, após atirar três vezes em sua mulher, na frente de seus três filhos.


Depois de ser dispensado por California no final de 88, no final de seu contrato, tentou uma volta com os Royals, mas não foi bem no Triple-A e o time o demitiu. Entrando em uma espiral de desespero, sem clube e sem emprego, pôs fim à própria vida.



Muitos relacionam o acontecimento com a ALCS de 86, quando Moore entregou a vitória do jogo 5 (que levaria os Angels para a World Series pela primeira vez) cedendo um 2-Run Home Run na 9ª entrada, que virou o jogo para o Boston Red Sox. Os Halos perderam a série em 7 jogos e Moore nunca mais se perdoou pela forkball que não quebrou o suficiente.


Não importava que ele estava jogando machucado naquele dia. Não importava que Gary Lucas, o reliever antes dele, acertou Rich Gedman com a bolinha e o colocou em base. Não importava que os Angels correram atrás do placar naquele jogo, empataram na 9ª baixa, tiveram bases lotadas com 1 out e não conseguiram rebater para ganhar. Ele sempre achou que fora o culpado pela derrota. Seu agente revelou à imprensa que ele falava da jogada o tempo todo desde que aconteceu, e certamente o clima no Angel Stadium, com vaias e xingamentos toda vez que ele entrava, não ajudavam em sua situação psicológica.


Ok, subindo um pouquinho o clima, o Draft de 89 foi importante pra história do time por revelar ao mundo do baseball Tim Salmon, um dos grandes Halos de todos os tempos, na 3ª rodada.


A Offseason foi pobre em movimentos, mas o clube conseguiu assinar com Mark Langston, Pitcher que vinha de seu melhor ano na carreira. Sem nenhuma perda significativa, seria ele a peça que faltava para que os Angels conseguissem voltar à pós-temporada, com uma rotação ainda melhor e um ataque com peças promissoras?

Mark Langston
Mark Langston
Não. O time regrediu em 1990 e provou que o ano anterior foi um espirro de sorte num Roster que não saltava aos olhos de ninguém. Um aceitável 80-82 fundamentado num ruim começo de maio foi obliterado pela temporada de 103 vitórias de Oakland e ficou na posição #4 na tabela do oeste.


Mas o ultimo ano da década de 80 trouxe boas lembranças pros torcedores. A temporada mal tinha começado e Mark Langston e Mike Witt combinaram para um No-Hitter em 11 de abril, contra os Mariners, no 3º jogo da temporada. Único No-No compartilhado da franquia. Teve também a vinda de Luis Polonia, um adorável desconhecido que rebateu .336 depois que chegou no time, fruto de uma troca com os Yankees.

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Bola do No-Hitter de Langston e Witt

 90 foi o último ano de Brian Downing com os Angels, uma história bonita que começou em 1978. O ex-Catcher e ex-Left Fielder vinha conseguindo manter seus números consistentemente, mas a idade (39) já pesava. Assinou com Texas no fim do ano e jogou mais duas temporadas.



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O ano marcou o fim de outra bela história. Mike Witt foi trocado com os Yankees por Dave Winfield, futuro Hall of Famer, que veio pra cobrir a lacuna deixada por George Hendrick no RF. Apesar de ser uma das caras da franquia e um dos jogadores mais queridos pela torcida, parece que a meia-noite bateu pra Witt no final de 87, e ele nunca mais foi o mesmo. O Pitcher que liderou o time em Wins, Strikeouts, Entradas Arremessadas e Complete Games todos os anos de 84 a 87, e que é o único Halo com um Jogo Perfeito no currículo, teve uma repentina perda de velocidade e não conseguia mais eliminar rebatedores por K. Teve duas temporadas com ERA ruim (4.15 e 4.54) e foi movido para o Bullpen. Pelo jeito, foi trocado no momento certo. Não conseguiu ganhar mais que 5 jogos por temporada até a aposentadoria em 93.

Dave Winfield
Dave Winfield

A rotação, mesmo sem Witt, teve um de seus melhores grupos com Finley (2.40 ERA), Langston (7.9 K/9), Abbott (211.2 IP, em seu segundo ano como profissional) e McCaskill (3.25 ERA). Os relievers continuava sólidos e somaram para 42 Saves, com Brian Harvey novamente muito bem.

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Langston, Abbott e Finley

Tirando o tal do Polonia, o ataque foi bem mal, com Wally Joyner perdendo quase metade da temporada e Winfield liderando o time com apenas 72 RBIs (e olha que ele jogou um mês a menos que todo mundo). Somente dois dos titulares (Devon White e Lance Parrish) tiveram 125 jogos ou mais, o que foi o definitivo para os Halos não engrenarem na temporada. Com as lesões, até Gary Disarcina, no alto de seus 22 anos, fez 18 aparições pelo time.


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Os destaques do Draft daquele são lembrados até hoje como dois dos heróis na grande conquista da história Halo. Garrett Anderson veio na 4ª rodada e Troy Percival, o dono do Save no jogo 7 da WS de 2002, na 6ª.


Ainda apostando na juventude e na renovação do elenco, os Angels foram pra temporada de 91 em modo DGAF, não se importando com o resultado final. Apesar de liderarem o Oeste até 3 dias antes do All-Star Break, ADIVINHA O QUE ACONTECEU? 37-48 até o final do ano e a última colocação na tabela (com um louvável 81-81, diga-se de passagem).


Se apoiando novamente na segunda melhor defesa da American League, os arremessadores continuavam maravilhosos. O quarteto de Starters somou para 17 Complete Games e três arremessadores tiveram anos memoráveis: Jim Abbott (2.89 ERA), Bryan Harvey (42 Saves, 1.60 ERA, 257 ERA+) e Mark Eichhorn (1.92 ERA). Langston e Harvey foram para o ASG.


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O ataque foi comandado por Polonia (.296) e Joyner (.301), este último em seu ano final com a franquia que o revelou. Além deles, Dave Winfield teve um ótimo ano, com 28 HRs, 27 Duplas e uma partida em que entrou para a história do clube, rebatendo para o ciclo.


Tirando os jogadores citados acima, o time foi bem passável. O resto do bullpen não ajudava e os outros titulares de campo se sustentavam pela defesa. Ao final do ano, a franquia ainda perdeu Kirk McCaskill e Dave Winfield para a Free Agency. Dick Schofield foi trocado na primeira semana de jogos de 1992, então a renovação estava completa. Mais ninguém do Roster de 1986 estava pra contar a desastrosa história, e era hora de começar a montar o time em torno das grandes esperanças que vinham das Minors.


Mas isso (junto à finanças, distúrbios públicos, greve e decepção) é assunto para o próximo Post! Até mais, e Light Up The Halo!

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