sábado, 13 de dezembro de 2014

A História dos Angels, Parte 2: O (Re)Nascimento (1961-1964)

Gene Autry

O que raios um Cowboy Cantor tem a ver com o meu time?




Se você leu a Parte 1 (AQUI!), sabe que os Angels eram um famoso time da Pacific Coast League, que foi obrigado a se mover de Los Angeles com a vinda dos Dodgers em 1957. Se você leu a Parte 1, sabe que um dos rivais dos Angels, o Hollywood Stars, vendia ações do time para celebridades da cidade. O que você provavelmente não sabe é que um desses acionistas era Gene Autry, famoso cowboy/cantor/ator/radialista dos anos 30, 40 e 50.


Deixemos isso de lado um pouco pra situar o leitor dos fatos correntes. American League e National League ficaram 50 anos intactas até alguns realocamentos em 1953. Tais movimentos, assim como a evolução nos transportes, permitiam que os times se espalhassem pra terras mais longínquas do que a Costa Leste. Dois dos principais e mais ricos times da época, Giants e Dodgers, ambos de Nova York, decidiram acatar a ideia da expansão e, já que podiam pagar aviões para seus jogadores, foram pro lugar mais distante possível: a Califórnia. Deu certo, e a popularidade da liga aumentou. Mas não de toda a liga. Dodgers e Giants eram da National League, fazendo esta ser reconhecida nos novos territórios e deixando a rival, American League, defasada. Pra piorar pra AL, a NL anunciou, em 1960, que expandiria de 8 para 10 times em 1962.



Dodgers em LA deu tão certo que eles usaram o Memorial Coliseum, de Futebol Americano, no primeiro ano, antes do Dodger Stadium.

A futura Turma do DH não quis ficar atrás e, mais que rápido, organizou uma expansão pra si, pra temporada de 1961! As cidades escolhidas foram Los Angeles (pra tentar conquistar os novos fãs) e Washington (porque os Senators tinham recém-movido para Minnesota, pra se tornarem os Twins, e a liga não queria que a capital ficasse sem um time).



Aqui voltamos para a nossa própria história. Gene Autry, o cara da capa do post, apaixonado por baseball e pelo rádio, se interessou por comprar os direitos de transmissão dos jogos desse novo time de expansão em Los Angeles. Mas não era o suficiente para o Cowboy Cantor, que, mais tarde, se convenceu a tornar-se o dono da franquia de expansão. Mostrando uma visão de mercado muito apurada, adquiriu o nome "Los Angeles Angels" de Walter O'Malley, dono dos Dodgers, por 350 mil dólares, e registrou o mando de campo da primeira temporada para o Wrigley Field. Com uma fan base praticamente pronta, não foi difícil pro time cair nas graças do público.


Eram os mesmos Angels, jogando no velho Wrigley, mas agora pela liga grande.

No primeiro Expansion Draft da liga, em 14 de dezembro de 1960, Senators e Angels disputaram jogadores dos outros 8 times da liga pra compor seus Rosters e poder jogar no próximo ano. Cada outra franquia da American League cedia 7 jogadores do Roster de 25 e mais 8 do Roster de 40 para o Draft, e os novos clubes escolhiam 10 Pitchers, 2 Catchers, 6 Infielders, 4 Outfielders e mais 8 jogadores à escolha.



A Pick #1 Overall foi dos Angels, e eles escolheram Eli Grba, pitcher destro que iniciou o primeiro jogo do time, uma vitória por 7-2 sobre os Orioles. Levou o Win e fez um Jogo Completo. Outros notáveis do Draft de 61 foram:




Jim Fregosi, talvez o melhor ShortStop da história franquia. Escolhido para 6 All-Star Games, Gold Glover, líder em Double-Plays da AL duas vezes, recordista de Triplas da franquia (70) e o primeiro Angel a rebater para o Ciclo (H, 2B, 3B, HR), em 28 de Julho de 1964 (e ele o fez de novo, em 20 de maio de 1968). Manager do time campeão da AL West em 1979. Morreu em 14 de fevereiro de 2014.




Dean Chance, o jogador mais novo da época a ganhar um prêmio Cy Young (23 anos) com uma campanha de 278.1 entradas, 1.65 ERA, 11 ShutOuts, 15 Jogos Completos (e 4 Saves!) em 1964. Ainda detém o recorde em ERA e ShutOuts em uma temporada pelos Angels.




Steve Bilko, velho conhecido, ganhador da Tripla Coroa da PCL em 1956 (.360 AVG, 55 HRs, 164 RBIs). Fez um OPS de .940 na primeira temporada dos novos Halos.



Angels no Spring Training de 1961. Vídeos dessa época podem ser vistos aqui.

Com o time pronto, casa arrumada e torcida animada, os Angels não fizeram uma primeira temporada ruim, para um time de expansão. 8º lugar, 70-91, 5 jogadores com mais de 20 Home Runs, 9 com OPS+ acima de 100 (média da liga) e 3 com mais de 200 bases totais. Mesmo num Hitter's Park, que favorece rebatedores, 10 arremessadores tiveram um ERA melhor que a média da liga em suas posições, com ERA+ acima de 100.


Ingresso para o Home Opener da franquia. Tres dólares e cinquenta cents.

No final de 1961, o time anunciou uma mudança de estádio. O Wrigley, apesar de ter um valor sentimental, já contava quase 40 anos e não era um estádio de nível MLB. Então, Gene Autry levou seu time pro norte e passou a jogar no grande, novo e brilhante Dodger Stadium.


Obviamente, não era este o nome usado em jogos dos Angels. Os Halos chamavam o lugar de Chavez Ravine Stadium, usando o nome do bairro ao invés do do rival. E podemos dizer que a mudança gerou frutos.



Dobrando a capacidade para os espectadores, os Angels foram de #9 para #4 na lista de público da AL e somaram 86-76, o que os deixou na 3ª colocação no final do ano. Passaram o feriado de 4 de julho na liderança da Liga Americana e lutaram até o final, mas um setembro ruim e uma sequência de 4-11 nos últimos 15 jogos da temporada acabaram com os sonhos angelinos.


Jogando num estádio mais favorável, os arremessadores conseguiram melhorar ainda mais a performance e fizeram história. Além de Dean Chance ser o 3º melhor Rookie da liga (2.96 ERA, 206.2 IP, 6 CG, 2 SHO, 8 Saves), outro novato, Bo Belinski, anotou o primeiro No-Hitter da história do time (e o primeiro do estádio dos Dodgers!) num 2-0 contra os Orioles, que coroou seu bom começo de temporada, com 5 vitórias em 5 jogos. No lado dos rebatedores, os números caíram um pouco, mas mesmo assim Leon Wagner conseguiu liderar o time com 37 Home Runs e 107 RBIs.


Bo Belinski em seu No-Hitter

Em 63, o time passou quieto com mais um 70-91, 9º lugar, e o Chavez Ravine Stadium foi se provando um Pitcher's Park. 26 HR's em 90 RBIs para Leon Wagner, liderando o time novamente.



A temporada de 1964 reservou outros grandes recordes para os Halos no lado dos arremessos, tendo o Cy Young de Dean Chance e 3 dos 4 jogadores da rotação titular (Chance, Belinski e Fred Newman) com um ERA abaixo de 3.00. Com outro ataque anêmico, o grande destaque foi Jim Fregosi, em seu segundo ano, com 22 Duplas, 9 Triplas, 18 Home Runs e 72 RBIs.



Dean Chance e seu ERA de 1.65 em 1964. Ainda hoje um recorde do time.

Com uma boa campanha de 82-80 em 64, Gene Autry percebeu que seu time estava crescendo precisava se desgrudar dos conterrâneos Dodgers e construir uma identidade própria. Foi aí que surgiu a ideia de ter um Ballpark próprio. Mas isso é assunto pro próximo post!








Uma curiosidade: o outro time de expansão de 61, o Washington Senators, cansou de perder jogos na capital e realocou para Arlington, Texas, dez anos depois. Se tornando quem? O Texas Rangers, nosso rival de divisão.


Outra coisa: não podemos deixar passar esses bonés com auréolas que o time usava nos tempos mais longínquos de sua historia! Ridículo ou criativo?



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