terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A História dos Angels, Parte 4: A Era Nolan Ryan (1972-1978)


A troca mais polêmica do baseball envolveu o (que viria a ser o) melhor arremessador da história dos Angels e um velho favorito da torcida de Anaheim. E ela funcionou pro nosso lado!

A temporada de 1971 terminou de um forma muito movimentada para o California Angels. Depois de um 76-86 e com a audiência do Angel Stadium caindo cada vez mais, Gene Autry sente-se decepcionado. Seu time, em 11 temporadas, fez melhor que .500 em apenas 4, conseguiu um 3º lugar como melhor marca e "brigou" pelo título só em 1962 (sendo que terminou o ano 10 jogos atras dos campeões Yankees). Sentindo o momento, o cowboy percebeu que precisava fazer algo drástico se quisesse fazer seu time ficar competitivo.

E fez. Trocou seu favorito e principal jogador, Jim Fregosi, 6x All-Star em 7 anos, mais de 1.400 rebatidas, 219 duplas, 70 triplas e 115 Home Runs como um Halo, por uma caravana de 4 prospectos do New York Mets:

Leroy Stanton, RF, fez quatro temporadas "meia-boca" e uma consideravelmente boa em 1975, valendo um WAR de 3.3 e impulsionando 82 corridas. Draftado pelos Mariners na expansão de 1977.

Francisco Estrada, C, participou de 21 jogos pelo Triple-A dos Angels e foi trocado para Baltimore em maio de 72.

Dan Rose, P, ficou um ano e meio com o Triple-A e foi trocado em 73 para os Giants.

O quarto tinha algo de especial. Principal jogador da troca, no lado dos Mets, Nolan Ryan era um dos melhores prospectos da National League no início dos anos 70. Flamethrower, tinha uma bola rápida invejável, mas também problemas com o controle da zona de strike, resultando num grande número de Walks. Começou o ano de 71 muito bem, mas decaiu depois da metade do ano, terminando muito mal e dando motivos para sua troca.



Do outro lado, Fregosi partiu, mas o tempo provou que ele já tinha gasto todo seu combustível em Anaheim. De 1972 a 1978, rebateu apenas 8 triplas e 36 Home Runs, e nunca somou para um WAR maior que 0.9.

Este vídeo, do ótimo comentarista da ESPN, Keith Olbermann, explica em muitos detalhes a negociação. O assunto começa aos 2:24.


Partindo pro campo, a temporada de 1972 já começou conturbada. Paralisação de duas semanas em abril, em prol do aumento de fundos de pensão e a adição do Arbitration. Problemas resolvidos rapidamente, e os jogadores voltaram em duas semanas.

Nada espetacular para os Angels, que terminaram com um record de 75-80 (os jogos afetados pelo Strike de 72 não foram remarcados, fazendo os Angels jogarem apenas 155 das 162 usuais partidas), e na 5ª posição da AL West. O ataque continuava fazendo pouco, e os principais destaques foram do 1B Bob Oliver (19 HR, 70 RBI) e do LF Vada Pinson (24 2B, 133 Hits).



Nos arremessos, o time foi muito bem, com 4 de seus 5 Starters terminando o ano com ERAs abaixo de 3.00. Liderados por Ryan, em sua primeira temporada completa como Starter, a rotação combinou para 57 Jogos Completos e 17 ShutOuts. Nolan Ryan, Clyde Wright e Rudy May faziam um belo topo da rotação, e todos passaram das 200 entradas arremessadas.

Este é um exemplo: Angels visitando os Brewers em julho de 72. Rudy May joga as 9 entradas e limita Milwaukee a 2 Hits e 2 Walks durante todo o jogo. ShutOut, 1-0 Angels. Nota-se também uma certa falta de sincronia no meio do Infield, reflexo da saída de Fregosi.



Nolan Ryan terminou o ano com 19-16, ERA de 2.28 (segundo melhor da franquia, atrás apenas do 1.65 de Dean Chance em 1964), 284 Entradas, 20 Complete Games, 9 Shutouts, 10.8 K/9 e 329 Strikeouts, liderando a liga no quesito. Apesar de seus problemas de controle, somando 157 Walks e 18 Wild Pitches (1º na AL em ambos), arremessou uma entrada imaculada (9 arremessos, 3 Strikeouts) em 9 de julho contra os Red Sox, um ShutOut de 12 (DOZE) entradas contra Cleveland em 27 de agosto e conseguiu uma passagem para o All-Star Game. Além disso tudo, conseguiu 5 rebatidas duplas (E UMA TRIPLA!), enquanto ao bastão.


Logo do time durante os anos 70 e 80. A estrela é Anaheim. Sério, eles se identificavam com isso aí!

Para a temporada de 1973, a American League decidiu inovar. A liga aprovou, para um experimento de três temporadas, a regra do Rebatedor Designado, o famoso DH, que iria ao bastão pelo arremessador. A medida foi tomada porque a AL estava sofrendo de uma baixa de público e julgava-se que os torcedores gostariam de ver mais ataque e um jogo mais balanceado. Nessa visão, tirar o Pitcher (e seu bastão semi-inútil) do Line-Up e substituí-lo por um jogador de mais habilidade/força fazia muito sentido.



A medida teve muito sucesso em seu objetivo, aumentar a presença dos fãs no estádio. Os Angels terminaram 73 com uma alta de 300 mil espectadores no Anaheim Stadium, em relação a 72, apesar de uma campanha passável de 79-83. O time se aproveitou da nova regra e contratou um experiente Power Hitter, Frank Robinson, vindo dos Dodgers na Inter-Temporada, que rebateu 30 Homers, 29 duplas e impulsionou 97 corridas, para um OPS+ de 151.



Os Pitchers podiam se concentrar mais nos arremessos e não eram "atrapalhados" para ir ao bastão, poupando fadiga e lesões. Assim, os Angels conseguiram novamente uma boa temporada de sua rotação. Nolan Ryan, Bill Singer (também vindo dos Dodgers com Robinson), Clyde Wright e Rudy May somaram para 12 ShutOuts e 72 Jogos Completos, com os dois primeiros indo ao ASG de 73.



Nolan Ryan teve uma temporada mágica. 21-16, ERA de 2.87, 26 Complete Games, 4 ShutOuts, 326 Entradas e 383 Strikeouts (10.6 K/9), que lideraram a liga. Terminou em 2º na votação para o Cy Young Award, perdendo para Jim Palmer, dos Orioles. Mas esses números pouco importavam, porque ele conseguiu um feito muito maior em 1973.



Um não, dois.



O primeiro No-Hitter da carreira veio em 15 de maio, contra os Royals, em Kansas City. Jogando 3 dias depois de ganhar um Save, Nolan passou irrebatível por nove entradas, cedendo 3 Walks e conseguindo 12 K's, para uma vitória de 3-0 dos Angels (vídeo AQUI).



O segundo No-No foi em 15 de julho, contra os Tigers, em Detroit. Cedeu 4 Walks e fez 17 Strikeouts, um recorde entre os No-Hitters da MLB. Uma curiosidade é que, com 2 outs na 9ª entrada, Norm Cash, dos Tigers, veio para a Plate com uma perna de mesa ao invés de um bastão. "Não ia fazer a mínima diferença, eu não ia rebater mesmo!", disse. O Umpire da Home viu e ordenou que ele usasse um bastão normal (vídeo AQUI).


A temporada também foi marcada pela estreia do Draftado de primeira rodada dos Angels em 1971, Frank Tanana. Em seus 4 jogos pelo time no ano, completou 2 e fez um ShutOut, no alto de seus 19 anos. O menino foi de grande importância para o time e formaria com Ryan uma das duplas mais dominantes do montinho dos anos 70.



Em 1974, os Angels continuaram fracos no bastão, mas o destaque foi o corpo de arremessadores. Ryan e Tanana fizeram sua primeira temporada juntos como 1-2 da Rotação e somaram para 7 ShutOuts e 38 Jogos Completos. Nolan conseguiu seu 3º No-Hitter no último jogo da temporada, contra os Twins, e o primeiro em casa. 8 Walks e 15 Strikeouts. Também conseguiu um 1-Hit, 1 Walk Game contra os Rangers, em 27 de junho (Autor da rebatida? Alex Johnson, All-Star pelos Halos em 1970). Também participou de um confronto contra Boston, onde fez 235 ARREMESSOS em 13 entradas. Apesar da grande performance dos lançadores, os Angels terminaram na lanterna da AL West, com o pior ataque da liga e um record de 68-94, na última temporada que que o Anaheim Stadium teve menos que 1 milhão de visitantes. Frankie Robinson liderou o time novamente, com 20 Home Runs, 26 duplas e apenas 63 RBIs. 



1975 também foi um ano ruim. 72-89, outra lanterna. Leroy Stanton liderou o ataque com, pasmem, 14 Home Runs e Dave Chalk fez 24 duplas, indo para seu 2º ASG seguido, junto de Nolan Ryan. Este que, imparável, registrou seu 4º No-Hitter, mesmo com fortes dores no braço, contra os Orioles, em Anaheim.


Um modesto 1-0, com 4 Walks e 9 Strikeouts, em 1º de junho. Tanana liderou o time em Vitórias (16), ERA (2.62) e ShutOuts (5), fazendo um bom trabalho quando Ryan se afastou do time por lesão no último mês da temporada. Também liderou a liga em Strikeouts, com 269 e chegou em 4ª pela corrida do Cy Young Award.

Em 76, as coisas melhoraram levemente, mas mesmo assim o time terminou em 4º na AL, com 76-86, e o Anaheim Stadium foi se provando um Pitcher's Park. O líder do ataque do time, o RF Bobby Bonds, rebateu apenas 10 Homers e impulsionou 54 corridas. Frank Tanana fez bonito e foi ao All-Star Game pela primeira vez, com uma campanha de 19-10, 2.43 em ERA e 23 jogos completos. Pelo segundo ano seguido, fez um jogo de 13 entradas sem sofrer corridas, e foi indicado ao Cy Young outra vez, ficando em 3º na votação. Nolan Ryan, apesar de sofrer 18 derrotas, liderou a AL em ShutOuts (7) e em K's (327)



Para a temporada de 1977, houve mais uma expansão da MLB, com novos times em Seattle e Toronto. Assim, a AL contava com duas divisões de 7 times, enquanto a NL continuou com 12 clubes até 1993.


Ninguém mandou colocar um time no Canadá...

Os Angels continuavam arremessando muito bem, mas o ataque ainda era a preocupação. Pensando nisso, Gene Autry resolveu abrir os bolsos e gastou em Free Agents com poder ao bastão. Contratou o DH Don Baylor, o LF Joe Rudi e o 2B Bobby Grich. Estes dois últimos somaram para 7 Gold Gloves nos 4 anos anteriores.



Mais "encorpados", os Angels tiveram uma guinada nos números ofensivos. E não só dos novos contratados. Bobby Bonds somou 37 Homers e 115 RBIs e Don Baylor adicionou mais 25 bolas longas.

Os pitchers continuavam a dominar e, mais uma vez, a dupla-pesadelo Ryan-Tanana foi para o All-Star Game. Os dois foram para a votação do CYA, com Ryan em 3º e Tanana em 9º. O primeiro liderou a liga com 22 Jogos Completos, 341 K's e 10.3 K/9, enquanto o segundo puxou o bonde da AL em ERA (2.54) e em ShutOuts (7). Mesmo assim, o time ainda não engrenava, e ficou com a 5ª posição da AL West, com 74-88.


Mas em 1978, o cenário começou a mudar. No começo do ano, os Angels fizeram uma grande troca com os White Sox, envolvendo a ida de Bobby Bonds e a vinda do versátil LF, DH e C, Brian Downing. O time se acertou e começou a atrair o público para o Anaheim Stadium, que somou mais de 1.7 milhão de visitas no ano. Com o ataque comandado, novamente, por Don Baylor (e seus 34 Home Runs), os Angels terminaram 78 com 87-75, empatados na 2ª colocação da AL West, perdendo dos Royals por apenas 5 jogos. O time também foi ganhando personalidade e perdendo a cara de "time de expansão", como mostram esses vídeos, protagonizados por Bobby Grich, que tinha uma paciência deveras curta.



Com o estilo de jogo mudando, o uso dos arremessadores também foi repensado. Nenhum dos Starters passou de 250 entradas e o papel do Closer (em todo o baseball) se tornou mais importante. Tanana (All-Star pela 3ª vez seguida) e Ryan tiveram temporadas discretas, com ERA perto dos 3.70, e o destaque foi o reliever Dave LaRoche, com 25 Saves e 2.82 de ERA em 95 entradas. Outra novidade do ano foi que o recém-liberado dos Pirates e velho conhecido, Jim Fregosi, se tornou o Manager do time, e conduziu boa parte da melhora nesse ano.


Depois de 18 temporadas, o time ainda ansiava por uma conquista. Sempre teve os arremessadores, mas ainda não tinha o ataque. Já tinha seus ídolos (Jim Fregosi, Dean Chance, Nolan Ryan, Frank Tanana, Don Baylor), mas precisava de algo mais pra deixar de ser um ponto esquecível no mapa. E esse "algo mais" veio em 1979. A épica temporada de 1979.

Mas isso é história pro próximo post!


(Até porque esse já tá longo demais!)

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