quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A História dos Angels, Parte 3: Um Estádio Pra Chamar de Nosso (1964-1971)


Já pensou se o nosso time se chamasse Baldwin Hills' Damaged Reservoir Angels? Continue o texto para entender.

Cansados de ser o "segundo time de Los Angeles", os Angels perceberam que dividir o Dodger Stadium não estava dando os frutos que o time queria. Apesar de uma boa campanha em 62, não havia como disputar o público local com o time campeão da World Series de 63. Pensando nisso, o dono do time, Gene Autry, começou os trabalhos para uma nova casa para os Angels na temporada de 1964. E saibam que Anaheim não foi a primeira opção.


Ao time sedento por novos fãs, foram ofertados três terrenos na região da Grande Los Angeles:

  • Um território perto da Hansen Dam, uma das muitas barragens construídas por causa do Grande Alagamento de 1938 (que aumentou demais o nível do Los Angeles River e inundou LA e as regiões de Orange County e Riverside, ao sul). O time recusou, e hoje o lugar sedia um campo completo de golfe e um centro de recreação.

  • O reservatório vazio de Baldwin Hills, oferecido pelo próprio prefeito de Los Angeles, Sam Yorty. Era um bom lugar, tirando que, um ano antes, o reservatório que abastecia uma grande quantidade de pessoas sofreu uma rachadura que desencadeou um (outro) grande alagamento na região.

Autry achou melhor não conectar seu time ao acontecimento e declinou a ideia (mas que seria interessante, seria).


  • A última proposta vinha do prefeito de Anaheim, a maior cidade do condado vizinho, Orange County. Apesar de, oficialmente, fora de Los Angeles, o Condado de Orange estava em exponencial crescimento, além de possuir uma base de fãs dos antigos (e novos) Angels. O estádio seria financiado com dinheiro público num contrato de 35 anos. O velho Gene não pensou duas vezes e colocou seu time na Santa Monica Freeway, pista Sul, em direção à nova cidade. 




Foi uma festa. Na cerimonia de início da construção, estavam presentes estrelas de Hollywood, o prefeito Yorty e até os cidadãos mais ilustres de Anaheim, Mickey e Pateta (a Disney original fica em Anaheim, não em Orlando).


Mickey e Pateta ao lado de Bill Rigney, Manager dos Angels de 1965
Tão logo as festividades acabaram, o trabalho começou, com a retirada de toneladas de milho e pés de laranja que rodeavam o terreno. Foram usados mais de 35 mil metros cúbicos de concreto, mais de 6 mil toneladas de aço (reforçado e estrutural) e aproximadamente 1.900 lâmpadas.






Jim Fregosi olha para uma maquete do Big A





Depois de 20 meses de trabalho ininterrupto, os Angels tinham um lugar próprio. Mas como chamá-lo? Os líderes da cidade queriam que o estádio ou o time fizessem referência à região, e propuseram uma mudança de nome da franquia, para alcunhas como Southern California Angels ou Orange County Angels. Gene Autry não acatou as sugestões, mas renomeou seu time para California Angels, dando a entender que estaria representando o estado inteiro, e o estádio ficou como Anaheim Stadium.


Uma curiosidade é que o tamanho do campo de jogo era simétrico, tinha medidas diferentes do "habitual" (333ft nas linhas invés de 330, 406ft pro CF invés de 400) e era alterado quase anualmente, para balancear o efeito a arremessadores e rebatedores. Apesar disso, desde aquela época, o estádio é considerado um Pitcher's Park, pois favorece os arremessadores.



No dia da abertura, em 19 de abril de 1966, alguns relatam que era um monumento à frente de seu tempo. Do lado de fora, no lugar da pintura, concreto revestido de quartzo, que refletia à noite. Dentro, três decks de arquibancadas simétricas, com capacidade para 43.204 espectadores, rodeavam o estádio, mas deixavam a vista do outfield aberta, com a paisagem das montanhas e da rodovia. No campo centro-esquerdo um enorme placar de 70 metros de altura, em forma de A, com uma auréola na ponta, dava o eterno apelido do estádio: The Big A (mais sobre esse icônico pedaço de história AQUI!).








Tudo isso deu a Anaheim a honra de sediar o All-Star Game de 1967. Um 2-1 para a Liga Nacional na 15ª entrada, no primeiro ASG com entradas extras!


Nos vídeos, notam-se bleachers, ou arquibancadas econômicas, no Outfield. Estas foram colocadas lá somente para esse jogo e não faziam parte do estádio, porque "não combinavam com o resto", segundo os moradores do subúrbio rico de Orange County.



Na primeira temporada na nova casa, o time fez uma campanha regular, finalizando com 80-82, mas quem deu show foi o público. Mais de 1 milhão e 400 mil pessoas foram ao recém inaugurado estádio, o que deu aos Angels o primeiro lugar no ranking de público da American League.




Opening Day, 19 de abril de 1966









No campo, o time tinha um meio de Infield muito bom, com Jim Fregosi e Bobby Knoop, que somaram para um WAR de 8.5, 30 Home Runs, 139 RBIs, 50 Duplas e foram titulares lado-a-lado no All-Star Game de 1966. Nos arremessos, Dean Chance continuou como Ace, passando das 250 entradas e fazendo 11 Jogos Completos (2 Shutouts), para um ERA de 3.08.


Bobby Knoop


Jim Fregosi

Apesar de todo o Hype das novas instalações, os Angels terminaram os anos 60 de uma forma bem passável, com um 5º lugar de 67 (84-77) e um 8º em 68 (67-95). Poucos destaques se compunham das Gold Gloves de Fregosi e Knoop e aparições de Jim em jogos das estrelas.


Scorebook da temporada de 1968

Aqui, um jogo entre Boston Red Sox e California Angels, pela temporada de 1967, no Fenway Park. Vídeo parcial da transmissão original.



Em 1969, houve outra expansão da American League, que adicionou Seattle Pilots e Kansas City Royals ao bolo. Com 12 times, a liga foi forçada a dividi-los em divisões East e West, e foi criada a American League Championship Series, ou ALCS, com uma melhor de 5 entre os campeões de cada divisão.

Scorebook da temporada de 1969

Os Angels ficaram no oeste, junto com Twins, Athletics (recém movidos para Oakland de Kansas City), White Sox, Royals e Pilots (que se moveriam para Milwaukee em 1970 para se tornarem os Brewers). A pouca competição mascarou uma ruim campanha de 71-91, que foi a terceira melhor da divisão, ficando à frente somente dos dois times de expansão e do clube de Chicago. Nem Jim Fregosi atraía mais público ao estádio, que recebeu pouco mais de 750 mil fãs.



Pennant (flâmula) da temporada de 1970. Disso daí de surgiu a ideia de chamar o título do campeonato de pennant.

Os anos 70 vieram com um bom começo, mas não durou muito. Em 1970, o time fez 86-76, mas continuou na 3ª posição, amparado por uma boa rotação de Pitchers e pela temporada da vida de Alex Johnson, Outfielder que rebateu .329, ganhou o título de rebatidas e foi ao All-Star Game, junto ao amigo ShortStop, Jim.



Sports Illustrated de abril de 1971, com Alex Johnson na capa.

Em 71, a rotação era uma das melhores da liga, com todos os arremessadores passando das 200 entradas com ERA abaixo de 3.77, mas o ataque passou o ano desligado, com ninguém rebatendo acima de .276, 21 Home Runs ou 68 RBIs.

Percebendo que nada estava funcionando direito, lá veio o velho Gene mais uma vez. E dessa vez, a coisa foi séria. Teve a ousadia de trocar seu jogador favorito, sua única estrela, em prol do time.


Entre outros, trocou Jim Fregosi.








Por Nolan Ryan.




Mas esse é um assunto pro próximo post!

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