quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A História dos Angels, Parte 5: Temos Visitas! (1979-1981)


O poder da crescente NFL dos anos 80 não podia mover montanhas, mas podia tirar a bela vista que nós tínhamos delas.


Junho de 1978. O Los Angeles Rams, apesar de conquistar 5 títulos seguidos da NFC West, não consegue encher o monstruoso Coliseum de Los Angeles e, com a nova regra do Black-Out, tem medo que seus jogos não passem na TV. A solução mais óbvia era sair de lá. Mover. Mas pra onde?

Percebendo uma grande oportunidade de negócios na crescente Anaheim (já ouvi isso antes...), Carrol Rosenbloom decide tirar seu time do estádio de 100 mil pessoas e colocá-lo no Anaheim Stadium, com os devidos acordos com a prefeitura.

"Ok", pensam os Angels. "Vamos ter que dividir o estádio por um mês e pouco por ano, mas podemos ser camaradas e deixar eles jogarem aqui. Além disso, vamos ganhar mais alguns fãs, nosso campo vai aparecer mais na TV e todo mundo vai falar do Anaheim Stadium!"

Pronto. Resolvido. Só pintar o campo, cobrir a areia do infield e colocar uma redinha atrás do Y pra não chutarem a bola no Big A!

Todo mundo imaginava algo como isso aí de cima. Afinal, os Rams é que são os "intrusos", que estão jogando de favor no nosso campo. O estádio, no fim das contas, é nossoMas não. A NFL era (é?) gananciosa. A capacidade de 45 mil pessoas era "pouco" para a gloriosa liga, e os Rams obrigaram Anaheim a expandir o estádio para a temporada de 1980.

A ideia de um estádio multi-proposta é cruel. Um "diamante arredondado" e um retângulo não combinam. Vide todos os "Domes" e estádios circulares dos anos 80 que acabaram implodidos, demolidos ou estão às traças. Lugares sem personalidade alguma, ruins para os dois esportes.

De todos os estádios multi-proposta, apenas 3 estão ativos, sendo que Oakland (Coliseum) e Tampa Bay (Tropicana Field) procuram por novas (e maiores) casas.

Mas o pensamento dos 80's era fazer estádios de duplo uso, e ninguém conseguiu pará-los. O Anaheim Stadium teve sua expansão programada e os trabalhos começaram na temporada de 1979. O projeto incluía o fechamento das arquibancadas, que acabavam nos Foul Poles, "fechando" o estádio e retirando dos fãs a vista de Anaheim Hills e da Orange Freeway. Pior que isso, também estavam programados bleachers removíveis no Outfield (pra mudança "rápida" entre os esportes), o que tiraria a marca registrada, o Big A, de seu lugar no campo esquerdo.


Por outro lado, se tratando de baseball, a temporada de 79 foi (muito) bem recebida pelos fãs. Já de início, na Offseason, o time trocou 3 Minor Leagues e um jovem Pitcher para o Minnesota Twins por nada menos que o MVP de 1977 e futuro Hall of Famer, Rod Carew.


Rod Carew

Juntando Carew ao Line-Up de Don Baylor, Bobby Grich e Brian Downing, mais os surpreendentes Dan Ford e Willie Aikens, o time liderou a liga em Corridas Anotadas, OPS+, OBP e Corridas por Jogo, dando um suporte merecido ao já excelente corpo de arremessadores, que não precisavam mais dar sua carne pra ganhar um jogo.




Nolan Ryan já estava mostrando sinais da idade (32 anos), mas graças ao ataque, teve que fazer só o básico: liderar a liga em Strikeouts (233) e ShutOuts (5), além de ir ao All-Star Game. Teve também o apoio de Dave Frost (3.57 ERA, 12 CG, 239.1 IP, veio junto na troca por Downing) e meia-temporada de Frank Tanana, que perdeu dois meses com uma lesão no ombro. Abaixo, um One-Hitter de Ryan contra os Yankees, em casa, uma semana antes de moverem o Big A para o estacionamento.



No bastão, os Angels estavam quentes. Brian Downing liderou o time em Batting Average com .326. Rod Carew liderou em OBP com .419. Mas ninguém foi páreo para Don Baylor. O Left Fielder/DH puxou o carro dos Halos com 36 Home Runs, 139 RBIs, 33 Duplas, 162 jogos e 22 Bases Roubadas, dando a ele a honra de ser o primeiro Angel a ganhar o título de MVP da American League.



Don Baylor

Contando como um time, California teve 5 jogadores recebendo votos para MVP e 6 indicações ao All-Star Game (Baylor, Carew, Downing, Grich, Ryan e o closer novato Mark Clear, 3º colocado na lista de Rookie of the Year). Baylor conseguiu 2-4, com Dupla, RBI e 2 Runs, Brian Downing fez 1-1 e é lembrado por ser eliminado na Home Plate na 8ª entrada com o jogo empatado. Nolan Ryan e Mark Clear combinaram para 4 Entradas, 4 Corridas sofridas e 2 K's.




A temporada seguiu forte para os Halos, e a briga pela AL West estava boa. Angels e Royals brigavam jogo a jogo pelo caneco, com uma leve vantagem aos Halos, principalmente por um com começo de setembro, com 9 vitórias em 10 jogos. Os dois times se enfrentaram 7 vezes no último mês, com uma primeira série empatada em 2-2 em Kansas e uma vitória na outra para os Angels por 2-1 em Anaheim. Na segunda partida dessa sequência, um jogo completo de Frank Tanana deu aos Angels o primeiro título da divisão.


Os Halos ganhavam a American League West.



(Nota-se parte da construção dos bleachers do RF nas filmagens. Enquanto os Angels estivessem jogando, nada mais pesado poderia ser feito no estádio.)



E o primeiro adversário em Postseason dos Angels (88-74) seria o Baltimore Orioles, campeão do Leste com um amedrontante 102-57 na temporada regular, e os trabalhos de Ken Singleton (35 HR, 111 RBI, 29 2B) e Mike Flanagan (23-9, 3.08 ERA, 5 ShutOuts). O mando de campo, aquela época, era alternado entre East e West ano a ano, e nesse o Anaheim Stadium ia sediar os jogos 3, 4 e 5.



A série começou em Baltimore, no Memorial Stadium e em seus grandes Power Alleys. Nolan Ryan arremessou 7 boas entradas de uma corrida merecida, mas saiu do jogo com câimbras. Rod Carew rebateu 3-4 e Dan Ford fez 2-4 com um Homer, uma Dupla e 2 RBI. O jogo foi decidido na 10ª entrada, com um Walk-Off Home Run de John Lowenstein, contra John Montague, pra fazer 6-3 Orioles (Box Score).



O segundo jogo foi emocionante. Dan Ford conseguiu um Home Run na primeira entrada, mas Baltimore abriu 9-1 ao final de 3. Na 6ª, os Angels começaram a reagir, e o ataque explodiu na 8ª, com 3 corridas. O time ainda teve mais duas corridas na 9ª pra deixar 9-8 e bases lotadas com 2 outs, mas Brian Downing não conseguiu tirar a bola do Infield (Box Score).




O jogo 3 não tem vídeo, então vamos pelos placares mesmo. O terceiro jogo contou com a presença de 41.399 pessoas num Anaheim Stadium em plena expansão. Como é possível ver na transmissão do jogo 4, o Outfield estava uma bagunça, com máquinas, meias-arquibancadas e um Scoreboard improvisado.

Os Angels tomaram a liderança na primeira com Single, Roubo e Single de Dan Ford impulsionando Carney Lansford. Os Orioles empataram na 4ª em cima de Frank Tanana, mas Don Baylor colocou os Halos na frente novamente com um Home Run. Na 6ª, Don Aase substitui Tanana com as bases lotadas e cede Sac Fly. Na 7ª, tripla e simples aumentam a vantagem de Baltimore, que estava a duas entradas da varrida na série. Na 9ª, com 1 out e perdendo por 3-2, Rod Carew rebate dupla e força os Orioles a trocar de Pitcher. Entra o Closer Dan Stanhouse no lugar do Starter Dennis Martinez. Walk em Downing pra permitir a DP sai pela culatra quando Bobby Grich rebate uma Flyball pro meio e o CF, Al Bumbry, erra a bola. Carew anota e empata o jogo. Com a corrida da vitória na 3ª base, Larry Harlow rebate uma dupla pra dar a vitória a California. A primeira vitória da franquia em Pós-temporada.


Downing elimina Murray na home para uma DP que terminou a 6ª entrada e o Rally de Baltimore.

Pro jogo 4, os Angels foram animados. Tinham ganhado de uma bela maneira em frente a sua torcida, e queriam mais. Mas não deu. Scott McGregor arremessou um grande ShutOut e os atacantes estavam inspirados, anotando 8 corridas (Box Score).


Angels dizem tchau ao sonho de World Series na primeira Postseason. Mas doeu um pouco mais do que deveria. Ok, Baltimore foi o melhor time da liga na temporada regular, mas o Starter pro jogo 5 era Nolan Ryan, que acabou nunca mais arremessando pelos Halos.


Essa parte é um pouco polêmica, e mostra a visão limitada dos General Managers da época. Buzzie Bavasi, GM dos Angels, não quis assinar uma extensão com Ryan ao final de seu contrato por julgar que ele "poderia ser substituído por dois pitchers 8-7". Isso mesmo. O GM levou em consideração apenas o número de vitórias e derrotas de Ryan (138-121). Danem-se os 4 No-Hitters, 7 One-Hitters, o ERA de 3.07, os 156 Jogos Completos, 40 ShutOuts, 2416 Strikeouts, 10.0 K/9 e 0.5 HR/9. Ele era um arremessador "médio" para Bavasi. Ok, ele exagerava um pouco nos Walks (Ok, pouco não. Liderou a liga 6 vezes), mas você não demite Mike Trout pelos Strikeouts!

Passada a raiva, Ryan assinou com os Astros, que o fizeram o primeiro beisebolista a ganhar 1 milhão de dólares.


Opening Day 1980. Angels vs Indians. Note as arquibancadas não acabadas no RF.

Para a temporada de 1980, pouco foi feito, e nenhum Starter à altura de Nolan foi contratado. Resultado? 65-95, ataque abaixo da média, arremessadores piores ainda, Brian Downing machucado, Record de 30-51 em casa (dizem que é deprimente jogam em um estádio enorme vazio. Mesmo com 30.000 pessoas, o Anaheim Stadium ficava pintado com a cor das arquibancadas) e pior campanha da história do time em uma temporada completa. Esquecível.


Olha a "beleza" que ficou isso aí.

Os únicos que performaram bem foram Rod Carew, o infalível, com .331, 34 Duplas e 7 Triplas (indo pro All-Star Game junto de Bobby Grich, que foi só pelo nome mesmo) e Jason Thompson, um DH que chegou no meio da temporada e liderou o time em Home Runs (17) e OPS (.965).



Nem Frank Tanana, sempre consistente, conseguiu arremessar abaixo dos 4.00 de ERA. Mark Clear e Andy Hassler lideraram um bom Bullpen, combinando para 19 Saves, 180 Strikeouts e 189.1 Entradas. O ponto alto da temporada foi um jogo em 23 de abril contra Cleveland. 17-0, One-Hitter de Bruce Kison (que perdeu o No-No com 1 out na 9ª).

Pra 1981, os donos do time viram que nada estava dando certo, e resolveram mudar drasticamente. Duas trocas Blockbusters com os Red Sox somaram para:

Angels recebem: Fred Lynn (CF), Rick Burleson (2B/SS), Steve Renko (P) e Butch Hobson (3B)

Red Sox recebem: Frank Tanana (P), Mark Clear (P), Carney Lansford (3B), Joe Rudi (LF), Rick Miller (CF) e Jim Dorsey (P)

A dupla 1-2 da rotação dos Angels destruída em duas Offseasons. Dois dos grandes jogadores do futuro (Clear, Lansford), trocados. O time estava em reconstrução. Mas talvez a troca não tenha se mostrado tão ruim assim, embora pareça que os Angels deram muito talento, à olhos destreinados.

Tanana nunca conseguiu repetir o sucesso com os Angels, Rudi e Miller estavam em declínio e Dorsey ainda era muito novo pra julgar. As verdadeiras baixas foram Clear (All-Star em 1982) e Lansford (Ganhou o título de rebatidas de 1982, com .336. Fez uma carreira bem sólida por Oakland).

Em contra partida, receberam um All-Star em Fred Lynn (que conseguiu liderar a liga em Average, OBP, SLG e OPS numa mesma temporada em 1979 e vinha de 3 Gold Gloves), outra estrela em Rick Burleson, um P mediano, mas eficiente, em Steve Renko e um 3B só-pra-completar-os-nove em Butch Hobson.



Pro campo, o time até que começou melhor. Mantinha a cabeça acima dos .500 em 11 de junho, até que a liga parou. Strike de 1981. O tribunal mandou os times cessarem as partidas e os donos se reunirem. Motivo? Free Agents. Os donos queriam uma compensação pelos Free Agents que perdiam, o que tinha virado uma festa para times ricos e um pesadelo para times pobres.



Solução? Nenhum jogador poderia se tornar Free Agent antes de completar 6 anos de serviço nas Majors e, quando assinasse com outro time, o clube de origem poderia escolher, numa espécie de Draft, um jogador deixado "desprotegido" pelos outros times da liga, uma espécie de Rule-5 Draft com jogadores da MLB.

A pausa fez com que a temporada fosse dividida em duas partes. O campeão da primeira parte enfrentaria o campeão da segunda parte, em suas divisões, dando forma à primeira ALDS. O ganhador enfrentaria o representante da outra divisão na ALCS.


Problemas resolvidos, o esporte voltou com o All-Star Game em 9 de agosto. 4 selecionados para os Angels: Fred Lynn, Rod Carew, Rick Burleson e Ken Forsch, um Pitcher vindo dos Astros que fez uma primeira metade de temporada muito boa.


Na metade final, os Halos caíram de produção e fecharam o ano com 51-59. Bobby Grich teve uma temporada realmente muito boa, rebatendo .304 com 22 Homers e Dan Ford e Don Baylor continuaram consistentes, somando para 32 Home Runs, especialmente em um ano de 110 jogos. Brian Downing foi movido pro Left Field e lá ficou. Nos arremessos, Forsch puxou a fila do ERA com 2.88, e foi seguido do novato Mike Witt (que performará um papel muito importante no time mais pra frente) com 3.28. Don Aase virou o Closer com 2.34 de ERA e 11 Saves.

Com o time melhor, mas ainda não enchendo os olhos, foi hora de outro splash na Free Agency. Se tem uma coisa em que os Rams ajudaram os Angels, essa coisa foi o dinheiro que eles pagavam pelo aluguel do estádio. O time entrou no modo "Dane-se o Farm System, nós somos ricos" e contratou um dos melhores Outfielders da época.

Reggie Jackson, o Mr. October dos Yankees. E isso fez muito bem à franquia. Abriu espaço para uma nova filosofia de gerenciamento.

Mas isso é história pro próximo Post!

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